reflexões

Atravesse a ponte; queime a ponte

Até uns três anos atrás, lembro que eu só postava uma foto no meu feed do Instagram quando tinha certeza absoluta. Passava horas tirando fotos e selecionando as melhores para, no final, perceber que não gostei de nenhuma.

Esses dias, olhei o perfil da minha prima de 14 anos e eu notei um padrão curioso entre as meninas dessa idade. Praticamente nenhuma delas posta fotos no feed. Elas concentram as publicações no story, que desaparecem após 24 horas. Fiquei me perguntando o porquê disso, mas não fui atrás de respostas. Até que, na semana passada, ouvi um podcast sobre saúde mental em que a psiquiatra entrevistada trouxe uma explicação que me ajudou a entender esse “fenômeno” da Geração Alpha.

Basicamente, a adolescência é uma fase cheia de descobertas, especialmente sobre quem se é. São diversas mudanças por metro quadrado acontecendo simultaneamente. Por isso, se os adolescentes estão descobrindo quem são, não tem como exigir que eles se comprometam com uma identidade que ainda está em construção. Publicar uma foto no feed é quase como oficializar o seu “eu” daquele momento com tinta permanente. E se você mudar? E se enjoar do que postou? Já era, todo mundo viu. Pode até soar um pouco exagerado, mas se reparar bem, os vinte e poucos anos não são tão diferentes disso.

No início da fase adulta, a gente se depara com um mar de possibilidades, em que as expectativas começam a pesar mais. Se aos 14 a preocupação é “e se eu mudar?”, aos 22 passa a ser “e se eu escolher errado?”. Assim como na adolescência, a gente continua tendo novas descobertas e experimentações. Só que, agora, é como se cada passo pudesse definir o nosso futuro. Digo isso porque eu também tô na luta contra essa ansiedade constante de querer acertar — e, vou te contar, parece que eu só levo nocaute.

Coincidentemente, ontem mesmo eu fui ouvir o novo episódio de um outro podcast, o ‘Psicologia na Prática’, que tocava exatamente nesse ponto. Por que será que não fico satisfeita com as boas decisões que tomei? Ouvir esse episódio foi quase como um daqueles momentos em que faço de tudo para não encarar uma conversa difícil, que sei que vai tocar em alguma ferida. A diferença é que dessa vez eu não desviei. E olha, sendo muito sincera, às vezes encarar os fatos não dói tanto assim como a gente imagina.

Fiquei pensando nessa minha busca incessante pelo extraordinário, quando, no fundo, sei que poucas coisas realmente importam pra mim. A Alana, psicóloga e host do podcast, falou sobre a importância de parar de repensar decisões já feitas por nós mesmos. Parece que estamos sempre flertando com o “e se” e “deveria” e acabamos perdendo de vista o que realmente tem valor.

Fala sério, no fundo, você sabe que correr atrás da carreira perfeita é como correr em círculos. Sabe que, com o tempo, pode acabar se encantando com uma profissão completamente diferente da que imaginou para a sua vida. Por que ficar se enchendo de opções? Você nunca gostou de fazer trabalhos com tema livre na escola, né?

É por isso que eu gosto de uma metáfora que a Luana Carolina usa: “crie a ponte; atravesse a ponte; e queime a ponte”. Ela é bem útil, especialmente quando você está em dúvida entre dois pratos e com o receio de fazer uma má escolha para a sua janta.

Tome a decisão e siga em frente, sem olhar pra trás. E, se der ruim, relaxa. Você ainda pode criar uma nova ponte! — e a parte boa é que ninguém está contando quantas você queimou no caminho.

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