
O que descobri tentando ser boa o suficiente
É estranho assumir isso em voz alta, mas às vezes eu tenho medo de fazer coisas bem feitas. Medo de entregar um resultado bom de algo que eu realmente goste, sabe? Pra você ter ideia do quanto isso mexe comigo, há pouco tempo eu até levei esse tema para a terapia, e desde então eu tento pegar um pouco mais leve comigo. Mas, claro, vou te explicar o contexto desse rolê todo.
Uma das primeiras crônicas que escrevi foi a “Desculpe o transtorno, estou em construção” — inclusive, também foi a primeira que publiquei aqui no blog. Levei em torno de duas horas para escrevê-la e eu gostei MUITO do resultado. Amo usar metáforas e analogias nos meus textos e, modéstia parte, acho que fiz isso muito bem. Não sei ao certo o que você entende ao ler essa crônica, mas tem muito de mim e da minha história ali. Apesar de ter gostado bastante do resultado, eu comecei a sentir uma insegurança absurda logo em seguida. No dia seguinte, eu já não conseguia escrever mais nada. Parecia que nada do que eu escrevia ficava tão bom quanto a última crônica, eu não conseguia fazer as conexões que eu queria, sentia que o texto ficava incoerente. E foi aí que eu percebi que já senti esse medo diversas vezes na minha vida: entregava algo excelente e ficava com medo de não ser capaz de sustentar essa nova “régua” que eu mesma tinha criado.
Algo que me fez refletir bastante sobre esse assunto foi o episódio 243 do podcast “Para dar nome às coisas”. Nele, a host Natália Sousa traz uma mensagem arrebatadora, que me fez pensar sobre a minha relação com meus textos, projetos, entregas e minhas experiências no geral:
“Muitas vezes, o que impede a gente de fazer as coisas que são importantes pra gente não é falta de vontade, mas o excesso. O excesso de vontade faz a gente pensar demais, planejar demais, idealizar demais. O que separa, muitas vezes, uma coisa feita de uma não feita, é querer muito ver a coisa pronta e não topar fazer ela enquanto a gente vai se fazendo”
— Natália Sousa
Sentiu, né? Pois é, eu também.
O que tirei de lição depois de ouvir esse trecho é que é IMPOSSÍVEL continuar entregando textos autorais realmente bons se eu decidir parar de escrever. Eu me faço enquanto escrevo. O que move meus dedos para digitar ou move minha mão para escrever é aquilo que está transbordando em mim. E, às vezes, o que transborda não é exatamente algo que quero publicar. Nem tudo o que transborda faz sentido — pode ser que essa incoerência seja justamente o que preciso reconhecer. O processo criativo nem sempre é linear. Seguindo o conselho da Natália, cabe a mim apenas a aceitar isso e topar escrever enquanto vou me fazendo.
Escrevi aquela crônica que mencionei há quase dois meses. Nesse meio tempo, concluí mais oito e publiquei metade delas. A última que postei, “Um pedido de desculpas mais que sincero”, escrevi em menos de vinte minutos. Era madrugada, eu literalmente só deitei a cabeça no travesseiro depois de um dia agitadíssimo e foi aí que surgiu a ideia para essa crônica (se você já a leu, vai entender o que quis dizer). Novamente, usei metáforas e analogias e, desde então, essa crônica se tornou a minha favorita.
Escrevo esse texto sabendo que é provável que esse “fenômeno da impostora” me segure de novo, mas também sei que sou capaz de lidar com esse bloqueio criativo mais uma vez. Se a insegurança bater, beleza, que venha. Ela só me lembra de que me importo com o que estou fazendo. No fim, sei que vou transformar cada momento (inclusive esse aqui) em novas histórias pra contar.

Atravesse a ponte; queime a ponte
Você pode gostar

Os três livros que escolhi para ler em dezembro
6 de dezembro de 2024
Se tudo é urgente, nada é urgente!
22 de maio de 2025