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Um poema para: aliviar a pressão de crescer

Quando eu era criança, não via a hora de me tornar adulta. Eu achava chique, sabe? Me imaginava usando salto alto, ouvindo o piso fazendo “tec tec tec” enquanto eu me arrumava pra sair, gostava de ir ao banco só para passar por aquela porta giratória maneiríssima e sonhava em comprar uma casquinha do Mc Donald’s todos os dias só para abrir minha carteira e pagar com meu próprio dinheiro.

Agora, com 22 anos, eu não gosto de andar de salto porque me machuca, tô enrolando há meses para ir ao banco porque não tô a fim de encarar aquelas filas quilométricas e justo na minha vez de ser adulta a casquinha tá custando R$ 3,50 — queria mesmo era que alguém pagasse pra mim! É, galera… Fui iludida por mim mesma esse tempo todo hahahah.

A fase adulta carrega um mundo de responsabilidades: imposições sobre o que deveríamos ser; críticas sobre as nossas escolhas profissionais e pessoais, como se houvesse um caminho certo e único a seguir; e aquela sensação constante de estar atrasada em relação aos outros. Parece que todo mundo ao redor tem um plano definido, um sonho concreto, enquanto a gente tenta, às vezes, só sobreviver ao caos do dia a dia.

Mas, é óbvio, existem também as partes boas. Ser dona das próprias escolhas, ter a liberdade de trilhar o próprio caminho e, às vezes, se dar ao luxo de tomar uma casquinha de sorvete (mesmo que a R$ 3,50) trazem uma satisfação que eu não trocaria por nada. Dias de luta e dias de glória, né?!

Por isso, hoje eu vim indicar um poema que conversa com tudo o que escrevi acima. O li pela primeira vez no 9º ano do ensino fundamental durante uma aula de Literatura em que meu professor organizou para a primeira etapa da apresentação de um sarau literário ao final do bimestre.

Foi, na verdade, o meu primeiro contato prático com poemas, e de cara eu me apeguei a essa obra atemporal do digníssimo Carlos Drummond de Andrade. Espero que também te sirva de alguma forma. 🧡

Verbo Ser (Carlos Drummond de Andrade)

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser.
Esquecer.

E aí, curtiu? 🙂

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